Prosa de dois velhos Pjoteiros/as


Outubro/2010
- Nos vemos no seminário sobre os 100 anos de Puebla, certo?
- Lá olharemos para trás e veremos se esses nossos sonhos para a PJ aconteceram. Será que não precisamos escrevê-los?
- Eles já estão escritos em nossa memória e em nossa Vida, nunca os esqueceremos.
- 2079 será um ano de muita gratidão à Deus....
Depois de termos dito isso, nós (Paula Grassi – 20 anos (RS) e Luis Duarte – 18 anos (GO) membros da Coordenação Nacional da PJ em 2010 e grandes amigos) nos despedimos e seguimos para nossas terras/dioceses/regionais para continuarmos a missão de amarmos os/as Jovens até o fim, defendendo sua Vida...
Dezembro/2079
Aos poucos íamos vendo o rosto dos/as jovens, assessores/as, leigos/as, religiosos/as, padres, bispos e amantes da Juventude que iam partindo de volta às suas casas depois de viverem a Grande Celebração dos 100 anos da opção preferencial da Igreja Latino-Americana pela Juventude... Eram sonhos, rostos, grupos, vidas que se reuniram naquela grande festa...
Sentados um ao lado do outro, num banquinho admirando o Divino no Jovem, seus sorrisos/rostos/cores/gestos, nós dois, chegando aos nossos 90 anos de idade, nos colocamos a falar da vida e a conversar:
- Quais eram os sonhos que desejávamos e ainda desejamos para a PJ, quando nos idos de 2010 éramos jovens e membros da Coordenação Nacional da PJ?
- O primeiro sonho, era continuar com a opção evangélica pelos jovens empobrecidos e excluídos. Desde o nascimento da PJ junto de suas irmãs PJMP, PJR e PJE, essa opção foi norteadora dos trabalhos pastorais. Recorda-te meu velho amigo Luís, das nossas incansáveis conversas sobre essa opção profética? Sempre acreditamos que é nesses jovens que a voz de Deus ecoa... E assim fomos e ainda somos solidários às suas dores, às suas alegrias, aos seus anseios... Mas esse era o primeiro sonho, me diga outro Luís!
- Manter viva a opção evangélica pelos jovens empobrecidos e excluídos é também falar de outro sonho que tínhamos para a PJ: sonhávamos que ela amasse o/a jovem incondicionalmente... Lembra-se do tanto de vezes que nas reuniões de dioceses, regionais e da CN falávamos que a PJ precisava acolher o/a jovem como ele/a é, com suas qualidades e limitações, com suas dores e alegrias, com suas cores e jeitos?
- Claro que lembro! A exemplo do Cristo que Ama e Liberta, amamos o/a Jovem incondicionalmente, mesmo quando excluído/a pela sociedade... Falando n’Ele, surge um dos principais sonhos das PJs: que a juventude possa descobrir, conhecer, ouvir, seguir e comprometer-se com Jesus Cristo. Foi na PJ que me senti chamada por Ele a seguir seus passos e a construir um mundo onde todos/as tenham vida e vida em abundância. Um mundo de justiça e solidariedade. Ele caminha conosco e ilumina nosso caminho.
- A PJ sem dúvida marcou a vida de muitos/as de nós. Como não lembrar das celebrações, atividades, DNJs e vivências que me fizeram, nos fizeram apaixonar por Jesus e nos comprometer a viver a Civilização do Amor no hoje? Lembra-se quando todos/as nós vivemos a preparação do III Congresso Latino Americano de Jovens, nos idos de 2010, onde queríamos “Caminhar com Jesus para dar vida aos nossos povos”?
- Recordo sim! Tinha várias maneiras para participar e você sempre motivando a todos/as para se envolverem! Contar a história de vida e da caminhada pastoral foi uma das maneiras que movimentou muitos/as jovens da base. E a nossa querida delegação brasileira que foi ao III Congresso, voltou cheia de histórias boas e outras nem tão boas pra contar... E nesse mesmo tempo do Congresso tava rolando aqui no Brasil a profética Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens... Que Campanha foi aquela, meu amigo Luis!
- Pois, é minha querida irmã... Como não se lembrar das inúmeras ações, seminários, marchas, estudos, cursos, palestras da Campanha que aconteceram, onde a Igreja Jovem denunciou as brutalidades da sociedade que mata as Juventudes... Sabe minha amiga, fazer memória da Campanha, também me remeteu à memória de Pe. Gisley – mártir da Juventude, que em um dos seus últimos e-mails fazia uma profecia: “Vamos juntos/as gritar, girar o mundo! Chega de Violência e Extermínio de Jovens!” Se lembra dessa frase?
- Infelizmente não conheci Pe. Gisley, mas seu trabalho e desejo com a juventude atravessam a fronteira dos estados, motivando outros padres, religiosas e religiosos para a evangelização transformadora. Com sua perda, seu sangue se espalhou por todo o Brasil... Germinaram sementes de esperança, de coragem... E essa frase em Cirandas de Vida, foi orada e cantada por milhares de jovens em cada cantinho do nosso país. As cirandas e toda a mobilização da Campanha foram sinais de Pastorais realmente comprometidas com a realidade. Falar em Gisley me lembra os momentos de resistência que passamos... Sabe Luís, foram tempos desafiadores e duros, algumas vezes, durante o tempo que estivemos na Coordenação Nacional. Mesmo quando saímos dessa instância, os desafios, as dores para as Pastorais da Juventude continuaram nos regionais, nas dioceses. Sempre pedi muito a Gisley para olhar e iluminar a caminhada das PJs.
- Nestes tempos difíceis que vivemos enquanto CN ou depois que saímos dela eu sempre me lembrava do testamento de Pe. Floris. Ele que foi assessor da PJB nos idos de 1991 e um dos sistematizadores do Processo de Educação na Fé, às vésperas de partir à eternidade, depois de uma vida doada aos pobres e jovens, com seu corpo tomado pelo câncer escreveu: “Se vier a saúde, seguirei servindo aos pobres e jovens. Mas se vier a morte, que ela seja na Cruz de Cristo uma oferta pelos pobres, jovens e pela Pastoral da Juventude do Brasil e da América Latina”.
- Pois é Duarte, tantas pessoas, tantos jovens passaram pelas Pastorais da Juventude deixando suas marcas... E as PJs também deixando marcas em suas vidas. Quem passou por alguma Pastoral da Juventude foi despertado para a pessoa de Jesus Cristo, comprometendo-se com o Reino de Deus, e assim com a vida do homem e da sociedade, com uma vida de comunhão e participação. Quem passou por alguma PJ fez e faz a diferença por onde atua, seja na sua comunidade, em outra pastoral da Igreja, no sacerdócio, nos movimentos sociais e tantos outros espaços. Falando nisso Luís, te contei? Meus filhos e netos também atuaram na PJ. A filha mais velha está ainda de assessora, e os netos ajudam muito na suas comunidades com os grupos de jovens das paróquias. Um deles inclusive está fazendo o CAJO pra se capacitar mais. E agora quem está começando no grupo de base é meu primeiro bisneto. Imagina... Tá iniciando o processo de educação na fé.
- Que notícia mais cheia de vida... Lembro-me, que certa vez me encontrei com um de teus netos em uma formação na CAJU... Eu, um padre já velho, estava lá, falando para aqueles/as jovens sobre Processo de Educação na Fé a partir dos Lugares Bíblicos da Vida de Jesus... Seu neto era um dos que mais participava dos debates! Bem se via que era seu neto... Sabe de uma coisa Paula? Uma das coisas que mais me marcaram na caminhada de PJ foram as amizades e o acompanhamento... Até hoje meu coração arde quando me lembro dos/as inúmeros/as amigos/as, irmãos/ãs que fiz e conheci na pastoral... Recordo-me com imensa gratidão das coisas que vivi junto deles/as seja no tempo das coordenações e assessoria, seja na vida... E como esquecer também daqueles/as homens, mulheres, religiosos/as e padres que nos acompanharam no processo de educação na fé?
Lembra-te de Raquel, de Carmem, de Alessandra, de Joaquim, de D. Vinicius, de Fabiane, de Edinho, de Wandinho, de Renato, de Hellen, de Karlos, de Alessandro, de Rezende, de Pe Gilmar, de Hilário??? Ahh que saudade deles/as...
- Lembro sim, mas essas foram algumas das milhares de mãos que fizeram a história da Pastoral da Juventude. Outras mãos que também fizeram a história da PJ foram nossos/as amigos/as e companheiros/as de Caminhada Pastoral... Como não lembrar de Rodrigo, Elis, Roberta, Ângela, Carlinhos, Adriano, Hildete, Thiesco, Jon, Walkes, Thiago, Renatinha, Edney, Felipe, Claudinei, Sandra, Marcelo, Jhonson, Álvaro, Fábio, Jaiane, Alex, Vanessa, Pedro, Pâmela, Ciana, Daniel, Daiane, Silvana, Susana, Rosana... E muitos são os/as companheiros/as de caminhada e de vida...
E ficamos ali um do lado do outro revisitando lugares, re-vivendo momentos, vendo e ouvindo pessoas, passeando pelos nossos caminhos e por nossas Memórias. Depois de muito tempo:
- Sabe de uma coisa meu querido irmão?
Olhei pra Paula na espera de suas palavras e ela me disse:
- Essa história, marcada pelo desejo das Bem-Aventuranças (MT 5, 1-12), tecida pela juventude no seguimento coerente a Jesus, seguirá por muito tempo ainda, dando passos rumo à Civilização do Amor!
Na felicidade do encontro, da amizade, da vida partilhada, do fazer memória e do celebrar a opção pela juventude nos despedimos em um longo abraço, dizendo um até logo, pois amigos/as nunca se separam.
Amém!



Por Paula Cervelin Grassi, 21 anos – Regional Sul III e Luis Duarte Vieira, 18 anos – Regional Centro-Oeste Ambos grandes amigos e os mais jovens membros da Coordenação Nacional da PJ em 2010.

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"Vamos juntos/as gritar, girar o mundo. Chega de violência e extermínio de jovens!"
Padre Gisley Azevedo